Mais que um conceito, o ESG é um movimento de transformação que vem ganhando cada vez mais força. Segundo um levantamento feito pelo Google Trends, o volume de buscas pelo termo cresceu 10 vezes no Brasil entre maio de 2020 e maio de 2022.
Isso mostra a relevância e necessidade de trazer o assunto para dentro das empresas, principalmente quando falamos em crescimento sustentável.
Veja o que você vai encontrar neste artigo:
✅ O que é o ESG, como ele surgiu e seu impacto na sociedade;
✅ As práticas do ESG para construção civil e redes de varejo;
✅ Quatro iniciativas para adotar práticas sociais, ambientais e de governança;
“Environmental, social and governance” são as três palavras que dão a tônica do que significa o ESG. Em linhas gerais, elas determinam indicadores que vão medir a atuação das empresas frente a esses três propósitos: cuidado ao meio ambiente, responsabilidade social e estratégias de governança.
Hoje, falar de sustentabilidade não se resume apenas a boas práticas ambientais. É preciso ir além e pensar em todo ecossistema que envolve a operação de uma empresa, independente do segmento.
Nesse cenário, torna-se necessário que as empresas se comprometam com um futuro mais sustentável, assumindo a responsabilidade dos seus impactos negativos na mesma medida em que potencializam seus impactos positivos no meio ambiente e na sociedade.
Ao longo deste artigo vamos nos aprofundar no ESG, e em como esse conceito pode transformar o mercado de construção civil e redes de varejo. Vamos lá?
O que é ESG
ESG é uma sigla em inglês derivada das palavras “environment, social and governance”. E, apesar de ter se tornado mais popular apenas nos últimos anos, já se fala sobre esse assunto há mais de uma década.
Antes de trazermos um breve histórico desse conceito, é importante observar que, na prática, essas três palavras dependem uma da outra. Afinal, não tem como pensar na redução do impacto ambiental se não houver políticas corporativas que estejam conectadas com esse propósito.
Desse modo, apenas ações pontuais não são o suficiente. É preciso inserir esse conceito no DNA da empresa, implementar uma cultura organizacional que esteja alinhada com os indicadores do ESG e colocar eles em prática em todo ciclo da cadeia produtiva.
ESG e o Pacto Global
Foi em 2004 que se falou pela primeira vez em ESG, no documento chamado “Who Cares Wins”. Desenvolvido pelo Pacto Global da ONU (Organização das Nações Unidas), em parceria com o Banco Mundial, o manifesto abriu as portas para trazer a sustentabilidade ao ambiente corporativo.
A discussão proposta ali impulsionou diversas instituições financeiras a refletir sobre como integrar questões sociais e de governança no mercado, sem deixar de lado as questões ambientais. Levou mais de uma década para que esse conceito de desenvolvimento socioambiental começasse a se consolidar.
Hoje, as práticas de ESG estão conectadas com a Agenda 2030 e os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU, que estabeleceu uma nova política global entre os 193 países membros das Nações Unidas.
Ao todo, foram estabelecidas 169 metas que devem ser alcançadas com ações conjuntas que envolvem diferentes atores sociais, como governo, organizações, empresas e a sociedade em geral.
ESG e as novas gerações: como a mudança de comportamento do consumidor impacta nas empresas?
Cada vez podemos notar uma mudança em como as marcas são percebidas pelos consumidores. Mais criteriosas, atentas e conectadas a valores sociais e ambientais, as gerações Y e Z vêm ditando a maneira como desejam que as empresas se posicionem no mercado.
Em um estudo realizado pelo Think With Google, 64% dos entrevistados da Geração Z (nascidos entre 1995 e 2010) disseram que interagem com o vídeo de uma marca quando ele reflete a verdade e a realidade da empresa. Além disso, a preocupação com a sustentabilidade lidera como uma das principais causas dessa geração.
Segundo a pesquisa, 85% dos entrevistados estavam dispostos a dar parte do seu tempo para alguma causa. Desse percentual, 43% apoiam a preservação ambiental e 20% a diversidade.
O mesmo acontece com a Geração Y, ou millennials (nascidos entre 1982 e 1994). Para esse grupo as práticas sustentáveis e o consumo consciente são valores inegociáveis.
Diante desse cenário, o ESG pode ser compreendido como um importante pilar de sustentação das empresas, principalmente aquelas que estão atentas às necessidades e demandas de seus consumidores.
Governança, responsabilidade social e sustentabilidade na construção civil e redes de varejo
Não é de hoje que se fala sobre o impacto da construção civil no meio ambiente. Nos últimos anos, com o debate sobre a sustentabilidade ganhando cada vez mais corpo, as indústrias também têm buscado alternativas para serem mais eficientes e sustentáveis.
Mas essa mudança ainda é tímida. Um estudo recente feito pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) mostrou que a extração e o processamento de recursos naturais ainda representa mais de 90% da perda global de biodiversidade.
O levantamento também apontou que somente a construção civil conseguiria reduzir a emissão de gases em mais de 700 milhões de toneladas, considerando a China, Índia e os países do G7 (Alemanha, Canadá, França, Itália, Japão, Reino Unido e os Estados Unidos), até 2060.
Para isso, seria necessário que o setor adotasse estratégias voltadas para a eficiência material e energética, uso de produtos alternativos, reciclagem, além de outras soluções voltadas para a redução de poluentes. Um desafio global, que ainda encontra algumas barreiras e resistências
No Brasil o cenário não é muito diferente. Uma publicação da Terracotta apontou que cerca de um terço dos recursos naturais extraídos no país vão para a construção civil. Além disso, metade de toda a energia gerada é para abastecer as edificações.
Esse panorama mostra a urgência do setor em olhar para a sustentabilidade de uma maneira mais estratégica. Isso significa trazer para a estrutura organizacional da empresa novos valores e propósitos alinhados com as perspectivas do ESG.
Como as práticas de ESG podem trazer mais eficiência para as indústrias?
Por muito tempo, pensar em sustentabilidade na indústria era algo associado com baixa eficiência, alto investimento e pouco retorno. Mas isso tem mudado e, nos últimos anos, essa perspectiva vem perdendo força.
No entanto, essa mudança não veio por acaso. Ela está ligada diretamente com os avanços tecnológicos e da própria indústria, que vem adotando cada vez mais softwares e sistemas que possibilitem o aumento da produtividade e o uso de recursos de maneira mais inteligente e estratégica.
Desse modo, passou-se a observar todas as etapas da cadeia produtiva com um mesmo objetivo: reduzir despesas, aumentar eficiência e ter resultados expressivos.
Se antes a lupa das gestões era direcionada apenas para o produto final, agora há uma necessidade de atuar desde a aquisição de matéria-prima até o processo de entrega ao consumidor. Esse olhar mais amplo é o que possibilita a aplicação do ESG de forma eficiente e estruturada. Confira alguns benefícios que essa prática pode trazer para a indústria:
- Menos desperdício de materiais e fontes energéticas;
- Uso inteligente dos recursos humanos e naturais;
- Gestão de custos mais eficiente;
- Economia de água e energia elétrica devido ao uso de materiais e sistema sustentáveis;
- Gestão de resíduos sólidos, com foco na reciclagem e no reaproveitamento em outras etapas do processo de produção.
- Reconhecimento nacional e internacional a partir de certificações consolidadas como a LEED
Por que aderir os indicadores de ESG?
Diversidade, automação e energias renováveis: essas são algumas das tendências que vão ganhar cada vez mais holofote nos próximos anos – e para isso é preciso se preparar. Mas, esses não são os únicos motivos para as indústrias começarem a trabalhar com o ESG.
A CNI (Confederação Nacional da Indústria) fez um estudo que apontou as 10 principais tendências mundiais com impacto direto na indústria entre 2018 e 2022. O levantamento foi apresentado no Mapa Estratégico da Indústria e corresponde a alguns dos principais desafios e oportunidades do setor em relação ao ESG para os próximos anos.
Além disso, os investidores e fundos de investimentos estão cada vez mais atentos às práticas sustentáveis das empresas. Tanto em relação ao impacto ambiental, como também a sua performance e eficiência produtiva.
De acordo com um relatório feito por uma empresa de investimento, as empresas que se preocupam com as questões envolvendo o ESG tendem a se destacar em seus segmentos.
Além disso, aquelas que assumem seu papel enquanto agentes sociais, constroem boas relações com seus stakeholders, governos e a população em geral. Isso, associado a uma gestão estruturada, acaba aumentando o valuation da organização ao longo do tempo.
Como adotar as práticas de ESG na construção civil e redes de varejo?
Vimos até aqui a importância do ESG, seus impactos na indústria e as principais tendências do mercado para os próximos anos. Agora, vamos abordar questões mais práticas envolvendo a construção civil e redes de varejo.
Separamos alguns indicadores importantes que cada segmento deve estar atento. Além disso, é fundamental trazer essas práticas para a cultura da empresa. Afinal, não tem como executar ações sustentáveis, sociais e de governança a longo prazo sem que haja uma mudança profunda no mindset corporativo.
Integrar práticas de ESG na construção civil e redes de varejo é um dos principais desafios dos próximos anos. Isso porque ainda há pouco entendimento em relação às maneiras de se fazer essa transformação dentro das organizações.
Além disso, por não envolver apenas questões ambientais e sustentáveis, não basta só práticas pontuais como processos de reciclagem e uso de energia renovável.
É preciso ir além, englobar práticas de cuidado à saúde e bem-estar do trabalhador, otimizar recursos, automatizar atividades, reduzir erros de operação, implementar políticas de inclusão e diversidade, etc.
Elencamos algumas ações que esses dois segmentos podem executar para se tornarem empresas mais competitivas e sustentáveis.
Impulsione a inovação e a criatividade
A criatividade é uma das principais portas de entrada para a inovação. Se você impulsionar essa skill na sua organização terá resultados surpreendentes relacionados à eficiência, produtividade e gestão.
Do mesmo modo, a inovação é um dos principais propósitos de empresas que buscam um diferencial competitivo. Aliando tecnologia com gestão estratégica, estimular um ecossistema inovador dentro da organização é, sem dúvidas, uma das maneiras de aplicar o ESG a longo prazo.
Tenha uma cultura organizacional forte e voltada para as práticas sustentáveis
Não há como desenvolver práticas socioambientais e econômicas se todos os stakeholders não estiverem envolvidos e alinhados com o mesmo propósito. Então, comece pelos seus colaboradores, promova práticas de saúde e bem-estar no trabalho e mostre que existe uma transformação real em curso.
Também é imprescindível que a sua empresa viva os mesmos valores que busca implementar com o ESG. Como vimos, os consumidores estão mais exigentes e atentos com as dinâmicas organizacionais, validando ou não produtos e serviços que, de fato, sejam produzidos e executados de maneira sustentável.
Seu desempenho financeiro é fundamental para o ESG
Quando você aplica práticas sustentáveis em toda a cadeia produtiva, o retorno financeiro é certo. Aqui estamos falando de otimização de recursos, redução de desperdício, uso de energia renovável como a ventilação e iluminação natural, automatização de processos, entre outros.
Além disso, aplicar estratégias de gestão financeira, focando em um crescimento equilibrado, é um dos principais cartões de visitas para atrair investidores.
Principalmente aqueles que consideram e valorizam as métricas de sustentabilidade a longo prazo das organizações.
Esteja sempre atento às tendências nacionais e mundiais
Vivemos em um mundo cada vez mais conectado. Uma consequência disso é que hoje as empresas precisam se adaptar mais rápido às novas tendências do mercado.
Aliado a essa realidade, as novas tecnologias também transformaram as dinâmicas sociais, fazendo com que o mercado começasse a olhar de maneira mais atenta às demandas e aos comportamentos dos consumidores.
Diante desse cenário, torna-se imprescindível acompanhar as mudanças globais no mesmo ritmo em que elas acontecem. Sem dúvidas, esse é um termômetro que vai ajudar muito a sua empresa a sempre estar um passo à frente.
Inclusive, aqueles que já começaram a investir no ESG colhem os frutos. No Brasil, O Grupo Boticário é um exemplo disso. A empresa se comprometeu com 16 ações socioambientais para serem cumpridas até 2030.
Em 2022, a organização foi uma das 21 empresas reconhecidas no Guia Exame como uma das melhores em relação a práticas ambientais, sociais e de governança.
Como vimos, pensar em sustentabilidade hoje vai muito além de apenas questões ambientais. Ela abrange toda uma estrutura social que vai desde a extração da matéria-prima até a distribuição de produtos e serviços ao consumidor final.
Hoje, mais do que se comprometer com o desenvolvimento sustentável do planeta, as empresas precisam assumir suas responsabilidades em relação aos impactos negativos e positivos do que produzem para a sociedade. E o ESG é o caminho para isso.